Carnaval: origens da festa e aula de História
Essa semana é comemorado no Brasil o Carnaval. A festividade garante um feriado para os brasileiros, que o aproveitam das mais variadas maneiras, seja pulando na avenida ou colocando em dia as séries na Netflix.
Amada ou odiada, a festa desperta muita curiosidade sobre suas origens e em quais outros países ela é celebrada. No texto de hoje eu te conto sobre isso e ainda trago dicas sobre como os professores de História podem falar sobre a celebração em sala de aula.
O que é o Carnaval?
Uma festividade popular comemorada em alguns países do mundo de maneiras diferentes, mas que mantém em comum a diversão e os excessos. O Carnaval contemporâneo é uma festa tradicional cristã que antecede o período da Quaresma.
Mas afinal, qual a origem da festa?
Não existe uma única resposta para essa pergunta. Na verdade, o Carnaval atual é feito a partir de uma mistura de influências variadas.
Sua origem, portanto, está ligada à diversas festas pagãs realizadas desde a Antiguidade mundo a fora. Dentre as mais lembradas pelos historiadores nessa influência, estão:
Saceias
Realizadas na Babilônia, os mesopotâmicos na Antiguidade Oriental tinham o costume de realizar festividades onde ocorria a subversão de papéis. Nesse sentido, durante essas festas, um prisioneiro assumia por alguns dias o papel do Rei, para por fim ser sacrificado.
Ainda na Mesopotâmia, nesse mesmo período, ocorriam festividades nas quais o Rei era agredido em frente a estátuas do Deus Marduk. A celebração de humilhação, servia como forma de demonstrar a inferioridade do governante em relação à divindade.
Saturnais ou Saturnália
Festividade realizada durante a Antiguidade Clássica na Civilização Romana, em homenagem a Saturno, Deus da Agricultura.
Elas aconteciam em dezembro e simbolizavam o fim do ano agrário, onde eram feitos agradecimentos ao deus e demonstravam as expectativas pelas colheitas do ano que viria.
A festa incluía banquetes e divertimentos, jogos de azar e bebedeiras e, principalmente, nela ocorria uma inversão de valores, na qual escravos ou pessoas mais pobres podiam se vestir como os membros da elite e participar como iguais nas festividades.
Outras festas pagãs
Não há um consenso entre os pesquisadores sobre todas as festas que tiveram influência sobre o Carnaval. Além das duas citadas, encontramos também outras festas romanas como a Lupercália (em homenagem ao Deus Pã) e greco-romanas como os Bacanais ( em homenagem ao Deus do vinho, Baco, que na Grécia Antiga era conhecido como Dionísio).
Além dessas, outros pesquisadores falam de festas comuns no Egito Antigo, como o culto à deusa Ísis. Assim como festas comuns em tribos germânicas relacionadas com a fertilidade e desejos sexuais.
Independente de qual seja a mistura que deu origem a festa que acontece contemporaneamente, o que todas essas celebrações pagãs que a inspiraram tem em comum é o agradecimento a deuses ligados à colheita, o exagero na comida, as bebedeiras, a inversão da ordem com pessoas de outras classes assumindo papéis invertidos e as orgias.
Cristianismo
Assim como a grande maioria das festividades e feriados ligados à cristandade, o Carnaval é uma festa que foi adaptada à partir da influência de festas pagãs, para não mudar radicalmente os costumes dos recém convertidos.
A ressignificação desses festejos com a intenção de ligar ao sagrado costumes que antes eram profanos, foi realizada pela Igreja Católica durante a Idade Média.
Naquele período, o Carnaval passou a ser um antecessor da Quaresma, período de 40 dias que antecede a Páscoa e que é marcado pela abstenção do consumo de carne. O jejum ligado à esse período recorda a provação de Jesus pelo Diabo no deserto, segundo a tradição cristã.
Dessa forma, ao renunciar os prazeres mundanos, como o consumo de carne ou a realização de atividades que os cristãos gostam, eles estariam realizando um ato de aproximação à Jesus.
A origem da palavra
Ainda ligado a tradição cristã, a palavra vem do latim “Carnis Levale” que pode ser traduzido como “retirar a carne” ou “adeus à carne”. Nesse sentido, a palavra está relacionada com o período de penitência e abstenção do consumo de carne realizado durante a Quaresma.
Como a festa antecede o início desses 40 dias, ela funcionava como uma espécie de festejo antes da privação. Ou seja, o Carnaval seria uma data reservada para os excessos para então iniciar o período no qual a Igreja buscava realizar o controle do comportamento dos fiéis.
O Carnaval ganha o mundo
Com a expansão do cristianismo para outros continentes, a festa que já era uma mistura de costumes pagãos, sofreu mais alterações quando em contato com outras culturas. Daí a sua variedade conforme o local onde ocorre.
Na Itália
Como não poderia deixar de ser, a Itália possui até hoje comemorações do Carnaval. A influência romana antiga aparece ainda, principalmente nas fantasias. A utilização de máscaras é própria da festa nas cidades de Veneza e Viareggio, e está relacionada com a subversão de papéis que já marcavam sua tradição pagã.
Os bailes de máscaras realizados nas cidades italianas no século XIII eram restritos à nobreza, mas à partir do século XIX a festa se popularizou. A utilização de fantasias e máscaras, passou então, a garantir a liberdade para a diversão ao passo que possibilitou esconder ou trocar a identidade de que as usasse.
No Brasil
Se pensarmos no Carnaval que ocorre hoje em nosso país, ele é característico daqui. A mistura de todos essas influências da Antiguidade, Medievais e Modernas Cristãs juntamente com o estilo musical Samba criado em terras brasileiras originaram nossa tão tradicional festa popular contemporânea. Mas até chegar nesse formato atual, ela passou por diversas transformações.
O carnaval chega em terras brasileiras
Foi pelas mãos dos colonizadores portugueses que a festa chegou ao nosso país. Isso ocorreu entre os séculos XVI e XVII com a celebração do “Entrudo”, festa típica carnavalesca que consistia na brincadeira de jogar coisas em outras pessoas. Tais como: água, farinha, limões e lama. Inicialmente uma brincadeira de elite, ela ganhou as ruas e gerou diversos problemas a se tornar de certa forma até violenta.
Durante o século XIX começou-se a discutir entre governantes e autoridades a necessidade de se “civilizar” a festividade e retirar essa prática que nas ruas se tornava violenta.
Então no século XX, a farinha passou a ser substituída pelo confete e serpentinas com a influência francesa do que deveria supostamente ser uma sociedade “civilizada”.
A partir de 1880 o Carnaval no Brasil passa a ser uma mistura desse carnaval de rua com o de salão de influência italiana.
A musicalidade brasileira
Não apenas a mistura de costumes deu forma ao Carnaval brasileiro, uma característica própria da nossa festividade é a sua sonoridade. É aqui que os batuques trazidos da África pelas pessoas que foram aqui escravizadas, misturados com os instrumentos musicais e influências de gêneros trazidas pelos portugueses vão originar o Samba.
Marchinhas de Carnaval
Tradicionais no início do século XX, as marchinhas foram o gênero popular de música que representou o Carnaval até a década de 1960, quando o samba-enredo ganhou destaque e o substituiu como símbolo musical da festividade.
Inspirada nas marchas militares, as marchinhas de carnaval possuíam um ritmo marcado, porém, mais acelerado acompanhado de letras com duplo sentido. A primeira marchinha foi “ó abre alas” composta em 1899 por Chiquinha Gonzaga.
Samba-enredo
As Escolas de Samba ganham protagonismo com seus sambas-enredo a partir dos anos 1960. Esse subgênero do samba foi criado especialmente para acompanhar os desfiles das escolas, todo ano cada uma escolhe uma temática que orienta a letra da música e a criação das fantasias e carros alegóricos.
A primeira escola de samba brasileira, foi a “Deixa falar” criada em 1928, que hoje se chama “Estácio de Sá”.
Diferenças por região
Obviamente assim como suas múltiplas influências, o Carnaval brasileiro possui diferenças de acordo com a região do país. Sendo bem comum no Rio de Janeiro e em São Paulo os desfiles de escolas de samba, em Salvador a utilização dos trios elétricos e em Olinda os bonecos gigantes e o frevo.
Como trabalhar o Carnaval em sala de aula?
Certamente existem diversas formas de o professor utilizar o Carnaval nas aulas de história. Aqui no Nas Tramas de Clio nós já escrevemos dois planos de aula que utilizam sambas como recurso didático e podem contribuir nas discussões sobre a temática:
Nesse plano de aula sobre a Identidade Nacional Brasileira, a ideia é utilizar a animação Alô Amigos, feita pela Disney em 1942. O qual, retrata o personagem Zé Carioca e sua relação com o Samba e o Carnaval.
Nesse texto, disponibilizamos alguns materiais de análise para quando o professor for trabalhar a temática da Proclamação da República. Incluindo então o samba-enredo “Liberdade, Liberdade! Abra as asas sobre nós” de 1989 da escola de samba Imperatriz Leopoldinense.
Outras possibilidades
É difícil pensar em sambas-enredo que não retratam a sociedade brasileira e/ou carioca. Em sua grande maioria, as temáticas dessas canções está ligada ao contexto vivido ou passado.
E, nesse sentido, eles costumam trazer críticas, sejam elas culturais, econômicas ou políticas. O que possibilita uma grande variedade de materiais de análise para serem debatidos na aula de História.
Cabe então ao professor, selecionar a música que se relaciona com a temática que ele vai trabalhar e elaborar atividades de análise com os alunos.
Referências Bibliográficas:
VERARDI, Cláudia; NOGUEIRA, Lara. Carnaval: origem e evolução. Fundação Joaquim Nabuco.
2 comentários
ESTER JULIANA · 15/02/2022 às 18:59
MENINAS,VOCÊS SÃO SENSACIONAIS.ABRILHANTAM NOSSOS PENSAMENTOS. AMEI AS IDEIAS SOBRE COMO TRABALHAR COM O CARNAVAL.
Caroline Dähne · 19/02/2022 às 10:39
Obrigada Ester 😉