Novo Ensino Médio: dicas para as aulas de História

Publicado por Caroline Dähne em

O ano letivo de 2022 está prestes a começar na maioria das escolas brasileiras e com ele temos uma novidade, a aplicação do Novo Ensino Médio. Certamente, assim como nós, muitos professores têm se perguntado sobre como irão se adaptar para esse novo desafio.

Já publicamos aqui no Nas Tramas de Clio um texto falando sobre o que o Novo Ensino Médio representa para as Ciências Humanas. Caso você ainda não esteja ambientado nessa mudança, sugerimos a leitura do texto através do acesso no link abaixo:

As discussões sobre a aplicação do Novo Ensino Médio não são novidade, mas nesse ano a maioria das escolas passará, enfim, a aplicar essa modalidade de ensino em suas grades. Daí a necessidade de começarmos a planejar nossas aulas de acordo com essa nova realidade. Então elaboramos algumas dicas para que os professores possam utilizar para o planejamento de suas aulas de acordo com essas mudanças.

Post para o Instagram com o título da publicação: Novo Ensino Médio- Dicas para as aulas de História.

Mudanças propostas pelo Novo Ensino Médio

São diversas as mudanças que o Novo Ensino Médio traz para as salas de aula e os planejamentos dos professores. Talvez uma das maiores dificuldades nesse primeiro momento esteja nas diferenças da forma em que ele será aplicado em cada estado do país e, consequentemente, em cada escola. 

No geral, embora cada região/escola possam determinar quais serão os itinerários formativos ofertados, a estrutura do Novo Ensino Médio se baseia em:

Sequências didáticas interdisciplinares

Há vários anos se fala em aulas e atividades interdisciplinares como uma ótima opção para o aprendizado. Sabemos que nem sempre as escolas oferecem estrutura e tempo para o planejamento dos professores para realizar esse tipo de atividade. Também existe uma grande dificuldade entre os professores que tiveram uma formação mais tradicional para elaborar atividades que dialoguem com outras disciplinas.

Como elaborar aulas interdisciplinares de acordo com o Novo Ensino Médio?

A tendência é de que as atividades interdisciplinares aconteçam muito na mesma área do conhecimento, ou seja, no nosso caso dentro das Ciências Humanas. Mas, ainda existe a possibilidade de realizar atividades com outras disciplinas.

A ideia da interdisciplinaridade é de que o aluno perceba na prática como aplicar o conteúdo em situações problema. E também, de que eles compreendam que História é muito mais do que apenas conhecer alguns fatos. Ou seja, aquilo que sempre ouvimos sobre despertar o senso crítico do aluno pode ser feito durante essas atividades.

Na área de Humanas, você pode realizar atividades interdisciplinares como: debates (para desenvolver habilidades de comunicação e pensamento crítico); criações de partidos políticos fictícios (para entender a estrutura política do país); simulações de assembleias da ONU (principalmente compartilhado com a disciplina de Geografia); entre várias outras atividades. Provavelmente você até já realizava atividades como essa, a ideia aqui é dividir isso com outras disciplinas, assim os alunos conseguem desenvolver habilidades diferentes e perceber o conteúdo na prática.

Com outras áreas, o planejamento se torna um pouco mais difícil, já que as atividades acabam saindo do comum e precisam de um estudo mais aprofundado para o planejamento. Em breve escreveremos um texto específico com dicas sobre como planejar suas atividades e avaliações interdisciplinares.

Abaixo vou deixar um link com uma sugestão de atividade interdisciplinar entre História, Física e Inglês para você se inspirar:

Protagonismo do aluno

Esse ano, eu e a Jéssica completamos 10 anos de formadas em Licenciatura em História na UEPG. Na nossa graduação já era comum ouvirmos falar do protagonismo do aluno e da atuação do professor como mediador. Na realidade de sala de aula, sabemos que nem sempre a estrutura tradicional permite que o professor atue dessa maneira. Porém, independente das mudanças propostas pelo Novo Ensino Médio, essa é uma daquelas que precisamos colocar em prática.

Já passou da hora de nos vermos como os “detentores do conhecimento” e o aluno como um mero “receptor”. No planejamento das aulas, precisamos trazer atividades mais práticas para que os alunos possam aprender de forma autônoma. 

Como elaborar aulas baseadas no protagonismo do aluno de acordo com o Novo Ensino Médio?

Quando falamos em História e prática, muita gente já pensa: não temos máquina do tempo. E ela nem é necessária! Nós historiadores pesquisamos através das Fontes Históricas, por que não as utilizamos mais em sala de aula?

Claro que uma das maiores dificuldades depende da estrutura da escola, a maioria não tem recursos digitais como televisões e data shows. Mas para os professores que têm essa possibilidade de recursos, incluir fontes históricas em suas aulas, despertam esse protagonismo.

Utilizar fontes como: imagens, textos, frases, vídeos, trechos de filmes, músicas, entre tantas outras, podem nos render atividades em que os alunos podem ser protagonistas nas análises. Certamente, com a orientação dos professores, explicando como é a metodologia da história e o que pode ou não ser realizado em uma análise. 

Professor mediador

O professor mediador também não é novidade no campo da Educação. A ideia é de que o professor oriente os alunos na construção do conhecimento e não apenas reproduza as informações do Livro didático falando por 50 minutos ininterruptos. 

Como ser professor mediador de acordo com o Novo Ensino Médio?

A atuação do professor como mediador pode ser feita através da orientação dos alunos na realização das atividades (como por exemplo, a nossa sugestão anterior de análises de fontes históricas). 

Vou dar um exemplo da minha rotina escolar: eu trabalho em uma escola que já tem uma metodologia diferenciada, onde a aplicação de interdisciplinaridade, autonomia do aluno e o professor mediador é algo comum. Quando iniciei minha experiência nessa escola, tive um pouco de dificuldade em ter criatividade para elaborar minhas atividades e realmente deixar o aluno no papel de protagonista. Hoje já são 6 anos de experiência nessa realidade e tudo se tornou natural no meu planejamento.

Minhas aulas geralmente se iniciam com uma discussão de algum conceito através do conhecimento prévio do aluno. Assim, já realizo um breve levantamento das concepções que os alunos têm sobre determinado assunto.

Em seguida, sugiro a atividade do dia, geralmente levo algum material de análise e relaciono isso com a pesquisa. Ou seja, oriento os alunos como devem analisar esse material e estimulo que complementem suas conclusões com a pesquisa bibliográfica.  

Enquanto os alunos realizam a análise e pesquisa, eu vou andando pela sala atendendo às dúvidas. Por fim, fazemos uma retomada coletiva do que cada um (ou cada equipe) analisou e encerro com uma explicação “juntando” as conclusões e relacionando com os conceitos daquele conteúdo.

* A quantidade de material de análise depende do tempo que tenho com aquela turma, às vezes inicio esse processo em uma aula e termino algumas aulas depois. 

BNCC: Competências e Habilidades

A BNCC já está na realidade escolar nos últimos anos, e a ideia era justamente como o  próprio nome já diz: criar uma Base Nacional Comum Curricular para nortear a elaboração dos currículos escolares no país.

Se você ainda não está acostumado com a BNCC, recomendo a leitura do nosso texto no link abaixo:

Como elaborar aulas baseadas nas Competências e Habilidades de acordo com o Novo Ensino Médio?

Semana passada, durante a semana pedagógica na escola em que trabalho, tivemos uma palestra sobre o Novo Ensino Médio, em que a palestrante falou que precisamos “desapegar” do conteúdo. Essa fala, causou espanto principalmente naqueles professores que dão aulas mais tradicionais.

É claro que como profissionais da área, sempre pensamos que TODOS os nossos conteúdos são importantes. E a mera insinuação de haver conteúdos cortados do currículo escolar nos geram estranheza.

Mas lembre-se que a proposta do uso de Competências e Habilidades está além do aluno saber uma informação decorada sobre determinado período histórico, e sim na construção de sentidos. Através do desenvolvimento de habilidades, os alunos conseguem perceber como algo que aconteceu no passado tem relação com o presente. E se tornam capazes de interpretar documentos históricos, analisar criticamente aquilo que eles consomem de produções culturais e se posicionar frente ao mundo. 

Uma das maiores dificuldades nessa ideia de “desapegar” do conteúdo, é certamente a preocupação com a preparação dos alunos para os Vestibulares, Enem e Concursos Públicos, que continuam sendo conteudistas em suas provas. Segundo especialistas, a tendência é de que nos próximos anos, as avaliações externas também se tornem baseadas nas Habilidades e não apenas nos conteúdos. Obviamente, até lá sabemos que muitos alunos (principalmente os de escolas públicas) serão prejudicados no acesso à Universidades. 

Desafios do Novo Ensino Médio

São inúmeros os desafios que essas mudanças trazem para a sala de aula. Dentre os principais estão: como planejar as aulas de acordo com essas novas perspectivas se o material didático (que em muitos casos é a maior e às vezes única ferramenta disponível na realidade daquele professor) não está adaptado ao Novo Ensino Médio?

E em: como realizar atividades de acompanhamento e avaliações baseadas nas Competências e Habilidades e não apenas no conteúdo? 

Não existem respostas prontas para esses questionamentos. Certamente eles serão os maiores desafios e nós professores precisamos encontrar caminhos para adaptar nossas aulas de acordo com essas novas demandas. 

Conclusão sobre o Novo Ensino Médio

A maioria desses conceitos não são novos na área da educação. Muitos países, inclusive os que são considerados os “melhores do mundo” quando o assunto é educação, já utilizam essas metodologias focadas na autonomia do aluno. 

Nesse texto, não expusemos nossas críticas a esse novo formato (já fizemos em um texto anterior). A ideia nesse momento, era propor dicas para que nossos colegas comecem a repensar sua prática docente para atender essa nova demanda.

Essa mudança trará diversos desafios a todos nós, conte com o Nas Tramas de Clio para repensarmos nossas práticas e trazer sugestões de atividades de História de acordo com esse Novo Ensino Médio. 

Referências Bibliográficas:

BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, 2018. 

MEC. O que muda no Novo Ensino Médio?

NOVA ESCOLA. Novo Ensino Médio: o que você precisa saber sobre a implementação. 2021.


Caroline Dähne

Mestre em História, Cultura e Identidades e graduada em Licenciatura em História pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Desenvolve pesquisas relacionadas a Segunda Guerra Mundial, Discursos jornalísticos, Patriotismo e Nacionalismo, Imprensa brasileira e Propagandas de guerra. Atualmente atua como professora de História na rede particular de ensino na cidade de Curitiba-PR.

2 comentários

Rosane dos Santos · 04/08/2022 às 19:40

Parabenizo pelo excelente artigo, esclarecedor

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