ONHB- Olimpíada Nacional em História do Brasil: como participar?

Todos os anos, desde 2017, eu costumo orientar alunos na ONHB (Olimpíada Nacional em História do Brasil) organizada pela UNICAMP. E cada ano que passa, mais amigos professores que querem participar me mandam mensagens pedindo dicas de por onde começar. Então resolvi organizar algumas informações que podem ser úteis para os professores iniciantes na competição.

O que é a ONHB?

É uma Olimpíada do conhecimento que busca novas formas de aprendizagem de História, embora seja uma competição, o maior foco nem sempre é ganhar uma medalha, mas sim, desenvolver novas habilidades de leitura e interpretação de documentos, assim como de debates e análises de temas relacionados à História do Brasil.

Como a ONHB funciona?

As provas da ONHB são realizadas em ambiente digital (site da Olimpíada) e divididas em 7 fases, sendo 6 fases virtuais e uma (a final) presencial realizada em Campinas-SP.

Cada fase tem duração de uma semana, iniciando com a liberação da prova nas manhãs de segundas-feiras e finalizando com o prazo nos sábados à noite. Nesse sentido, a final, é realizada em um fim de semana determinado pelo calendário oficial.

A prova é realizada em equipe de 3 alunos com a orientação de um professor de História vinculado a mesma instituição de ensino. Esses alunos podem ser do Ensino médio (não importando se são da mesma série ou não) ou do Ensino Fundamental (8º e 9º anos). Nesse sentido, o mesmo professor pode orientar quantas equipes desejar e se trabalhar em mais de uma instituição pode orientar equipes de ambas (apenas não pode mesclar esses alunos numa equipe, ela deve ser sempre elaborada com alunos da mesma instituição).

Como é a prova da ONHB?

A cada semana a organização disponibiliza a prova diretamente no site, e em versão em PFD para impressão e para leitura no celular. Assim, cada fase é composta por um número determinado de questões objetivas e uma tarefa.

Questões objetivas:

As questões objetivas sempre são acompanhadas de um material de apoio, que pode ser um texto, uma música, um desenho, um mapa, uma fotografia, enfim, um ou mais documentos históricos de análise. O objetivo é que o estudante desenvolva habilidades que os historiadores utilizam na análise de fontes históricas.

Nesse sentido, cada questão traz 4 opções de resposta, aí após a análise dos materiais de apoio, cabe à equipe definir qual a alternativa vale mais pontos.

Como determinar a pontuação de uma alternativa?

O sistema de pontuação é baseado da seguinte maneira (MENEGUELLO, 2011):

• 1 alternativa está errada e, portanto, vale 0 pontos.
• 1 alternativa tem uma resposta que corresponde à leitura imediata, vale 01 pontos.
• 01 alternativa tem uma resposta que corresponde à uma leitura contextualizada, valendo 04 pontos.
• 01 alternativa é mais completa demonstrando a compreensão de conceitos e processos históricos, assim, valendo 05 pontos.

Embora com essa explicação, pareça simples de determinar a resposta valendo mais pontos. É necessário muito debate para se chegar a uma resposta final. Por isso a importância do professor realizar reuniões para que a equipe defina suas próprias estratégias.

Tarefas

Tradicionalmente, nos últimos anos a ONHB vem dividindo a sequência de tarefas da seguinte maneira:

Fase 01- questionário socioeconômico e cultural, que deve ser respondido por todos os alunos e professor orientador.

Fase 02- Análise de Imagem, nessa tarefa, a equipe precisa relacionar frases com pedaços (migalhas) de uma imagem, encontrando qual é a sua correspondente. Como no exemplo abaixo:

Fase 03- Consiste na organização de uma Linha do Tempo dos documentos analisados pela ONHB até aquele momento. Separando entre o período histórico de produção do documento e o período histórico do tema abordado (a época sobre a qual fala o documento). Ou seja, um texto pode ter sido publicado no ano de 2025 e falar sobre a década de 1920, dessa forma, o século em que foi produzido seria o XXI e o século a que se refere seria o XX.

Fase 04- Transcrição de documento, essa é a temida tarefa e que divide opiniões entre amo e ódio dos participantes, na qual é necessário que a equipe leia e transcreva um documento histórico utilizando técnicas de Paleografia. Exemplo de documento transcrito na ONHB12, abaixo:

Fase 05- Elaboração de tarefa, nessa etapa as equipes classificadas são desafiadas a produzir um material de acordo com as orientações, alguns exemplos de atividades das ONHB anteriores: elaboração de Jornal, de Diário, de Exposição Virtual, de Blog, entre outras.

Fase 06- Correção entre pares, cada equipe recebe o trabalho de outras equipes (sem identificação) para que possa realizar a correção a partir de um questionário com respostas: SIM ou Não, verificando se a equipe que elaborou a atividade atendeu aos critérios. Observação: essa etapa também é realizada por corretores da própria ONHB para garantir a lisura do processo.

Como participar?

Agora que já sabemos como funciona a estrutura da prova, vamos com as dicas sobre como se organizar para participar:

Inscrição:

A inscrição é feita pelo site da Olimpíada: https://www.olimpiadadehistoria.com.br/ e pode ser realizada pelo próprio professor, funcionário da escola ou aluno. Para inscrever é necessário o código do INEP do Colégio e algumas informações como endereço para gerar o boleto.

Lembrando que Colégios públicos são isentos do pagamento da inscrição.

As inscrições desse ano vão até o dia 25 de Abril!

Montagem das Equipes:

Após o pagamento do boleto, você precisa realizar a montagem das equipes, determinando um nome para ela, e colocando os seus dados e o dos alunos (nome completo, e-mail, série).

Cada estudante receberá um e-mail com um código de acesso e deve utilizar em seu primeiro login no site da Olimpíada para validar seu acesso (é só seguir o passo a passo indicado no e-mail). Lembre sempre de orientar o aluno a checar também a caixa de spam, caso o e-mail não chegue.

Orientações e criação de estratégias:

Cada colégio tem uma realidade, então cada professor deve conversar com sua direção/orientação pedagógica para verificar a possibilidade de horários/carga horária para realizar as reuniões de orientações. Existem colégios que pagam hora extra, outros que preveem horas de projetos extracurriculares, alguns que criaram Itinerários do Novo Ensino Médio com disciplinas específicas para a orientação e tem também aqueles em que os professores precisam usar suas horas atividade para realizar suas orientações.

No meu caso, uso minha hora atividade e procuro agendar em horários compatíveis com o contraturno dos estudantes para realizar as reuniões.

Uma coisa que aprendi nesses anos de Olimpíada é que mais do que realizar a prova, é necessário que o aluno conheça a ESTRUTURA da prova, para isso eu coloco em prática duas estratégias:

• Leitura do Regulamento com os alunos: embora seja um pouco cansativo, no regulamento é especificado toda a estrutura da competição e as formas de avaliação, o que ajuda a entender a ONHB.
• Reuniões antes do início da ONHB para realizar provas passadas, discutindo as questões e comparando com o gabarito oficial. Dessa forma, os estudantes vão aprendendo como a estrutura da prova funciona e vão criando suas próprias estratégias.

É novo na ONHB e não sabe onde encontrar as provas antigas?

No link abaixo do blog Formação Histórica, você encontra as provas de 2014 a 2023 com os gabaritos: https://formacaohistorica.blogspot.com/p/olimpiada-nacional-em-historia-do-brasil.html

 A ONHB começou e agora?

Eu costumo toda segunda-feira de manhã imprimir no colégio algumas cópias da prova para que os alunos que assim preferirem possam fazer suas anotações. Claro que isso varia de acordo com as possibilidades da sua escola.

Minhas reuniões são feitas sempre na quinta ou na sexta-feira, assim as equipes já tiveram tempo de realizar uma prévia da prova e vão conseguir participar ativamente da reunião. Nela, fazemos a leitura das questões e montamos um gabarito provisório do que não marcar, as alternativas que achamos que vale 0 e 01 pontos. Desse modo, cada equipe decide seu gabarito final entre as duas alternativas que pensamos que pode valer mais pontos. Lembrando que cada professor estabelece suas estratégias, nesse caso deixo em aberto a resposta final para respeitar que cada equipe após a orientação e reflexão sejam capazes de decidir sua alternativa de forma autônoma.

Após essa reunião geral, cada equipe se organiza no horário melhor dentro da disponibilidade de cada um, seja presencialmente ou de forma virtual para decidir suas respostas finais.

Então combino que semanalmente uma pessoa da equipe fica responsável por salvar e enviar as respostas no site da Olimpíada até o prazo final no sábado.

Sempre crio um grupo no whatsapp onde os estudantes vão enviando a informação que entregaram a prova e assim acompanho para ter certeza de que nenhuma equipe esqueceu do prazo ou teve problemas na entrega.

E na fase 05 e 06 da ONHB?

Como nessas fases não há questões objetivas, eu mudo o formato da orientação, geralmente organizo os alunos no contraturno escolar para a elaboração da atividade, ou (nos casos de alunos que trabalham no contraturno) solicito liberação para a direção das demais aulas (que não tenham avaliação) naquela semana para que os alunos possam realizar a produção da tarefa.

Nesses casos, intensifico meus períodos de orientação e recorro à ajuda de professores de demais disciplinas, tanto com indicações bibliográficas, quanto com dicas de correção ortográfica para as equipes.

E a Final?

Ano passado, 2024, foi a primeira vez que uma equipe que orientei foi para a Final da ONHB. Assim como ficamos felizes, ficamos desesperados hahhaha não sabíamos por onde começar a treinar, visto que não encontramos as provas antigas da Final na internet e não conhecíamos ninguém que tinha ido para a final e pudesse nos ajudar.

Então partimos do pressuposto: tema da Olimpíada, que naquele ano era Os objetos e a História, e da estrutura de prova discursiva. Durante 1 mês, fiz indicações de leituras para os alunos, fizemos reuniões para discutir conceitos e eles produziram diversos textos baseados na temática para treinar argumentos.

Infelizmente todo esse treinamento não foi suficiente para ganharmos uma medalha de bronze, prata ou ouro. Mas todo o aprendizado que nós tivemos e a possibilidade de viver a final da ONHB foi incrível.

Ainda não sei estratégias que funcionam para a final, mas prometo que durante esse ano vamos tentar descobrir!

Cursos para os professores:

Além de tudo que aprendi nas edições que participei da ONHB, tive a oportunidade de participar de 3 Cursos de Formação Continuada oferecidos pela UNICAMP para os orientadores. Dois deles: “A Canção Popular Brasileira no Ensino de História” e “Patrimônio Cultural e Ensino de História: Desafios do e no tempo presente” eu realizei de forma virtual, em ambos meus planos de aula: “Escravidão, castigo e resistência” e “Não sou gato de Ipanema, sou Bicho do Paraná” foram escolhidos entre os 50 melhores do curso e publicados no site da Olimpíada!

Você encontra os planos no link abaixo:

https://www.olimpiadadehistoria.com.br/especiais/planos-de-aula/planos?page=1&editions=6&classes=1,2,3

Já o outro curso, realizei ano passado de forma presencial, graças a equipe que eu orientei “Receptáculos de Niké” ter sido classificada como a melhor equipe do estado do Paraná. Então, fiquei uma semana na UNICAMP estudando com os organizadores da prova, professores da instituição e com professores do Brasil inteiro que também participaram do curso. Enfim, foi uma experiência sensacional que eu espero que todos os nossos leitores possam vivenciar um dia!

Então, se a ONHB oferecer um curso de formação; se joga! Eles são intensos e contribuem muito com a nossa prática pedagógica, além de ser uma forma de atualizar nossos currículos e de se inteirar de novas produções acadêmicas.

Conclusão

Enfim, essas são as minhas dicas iniciais para aqueles que estão começando a orientar equipes na ONHB.

Se você já participou e tem dicas complementares, que tal deixar aqui nos comentários? Vamos juntos criar um espaço de compartilhamento de experiências e uma rede de apoio aos colegas iniciantes!

Ficou com alguma dúvida, fique à vontade para entrar em contato comigo através da nossa rede social no Instagram: https://www.instagram.com/nastramasdeclio/?hl=pt

É isso! Boa sorte colegas! E bem vindos a essa aventura!

Referências bibliográficas:

ARAÚJO, Marisnanda Mota. “Tenho Muito Para Contar, Dizer Que Aprendi”: O Ensino de História através da Olimpíada Nacional Em História Do Brasil (Onhb) e da Olimpíada de Ciências Humanas do estado do Ceará (Oche) – Práticas docentes e aprendizagem histórica (2018 A 2022). Dissertação (Mestrado Profissional em Ensino de História) –  Universidade Federal do Ceará. Fortaleza, 2023. Disponível em: https://repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/73630/3/2023_dis_mmaraujo.pdf Acesso em: 29 setembro 2024.

BATISTA, Maria Eduarda Pessoa Vieira. Olimpíada Nacional em História do Brasil e sua contribuição no campo das práticas avaliativas em História. Anais do XIII Encontro Estadual de História. História e mídias: narrativas em disputa. Pernambuco, 2020. Disponível em: https://www.encontro2020.pe.anpuh.org/resources/anais/22/anpuh-pe-eeh2020/1601318145_ARQUIVO_8d022ba701e7f2d541ef8e92ae17b3d7.pdf Acesso em: 30 setembro 2024.

MENEGUELLO, Cristina. Olimpíada Nacional em História do Brasil- uma aventura intelectual? Revista História Hoje. Revista Eletrônica de História. volume 5, nº 14. 2011. Disponível em: http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/fevereiro2012/historia_artigos/1meneguello_artigo.pdf Acesso em: 29 setembro 2024.