Mestrado: como ingressar na Pós-graduação?
Já faz algum tempo que vários amigos me perguntam o que é necessário para cursar um mestrado.
Pensando nisso, preparei esse texto com explicações das etapas para ingressar num Programa de Mestrado. Além de dicas a partir da minha experiência pessoal enquanto Mestre em História, Cultura e Identidades pela UEPG.
Educação Brasileira
Quando pensamos em educação no Brasil precisamos perceber que ela é composta por dois segmentos a Educação Básica e o Ensino Superior. Essas duas estruturas abrangem etapas distintas, cujos objetivos específicos se diferenciam de acordo com a idade do estudante e o seu nível de desenvolvimento escolar.
Educação Básica
A Educação básica é formada pela Educação Infantil, onde ocorre a socialização da criança; o Ensino Fundamental, dedicado ao processo de alfabetização nos anos iniciais e a relação com conteúdos mais complexos nos anos finais; e por fim, o Ensino Médio, onde ocorre o aprofundamento do conhecimento adquirido anteriormente.
Essas etapas da Educação Básica são asseguradas pela Constituição Federal como obrigatórias e gratuitas para todos os brasileiros.
Ensino Superior
Quando o aluno termina a educação básica e procura continuar estudando, o próximo passo é a graduação. Na qual, pode-se escolher a área específica e a modalidade de ensino a cursar.
Esse grau de instrução não é obrigatório, quando pensamos em gratuidade, existem as Universidades Públicas. Mas, como não existem vagas o suficiente para todos é necessário a realização de um processo seletivo para o seu ingresso.
Já falamos por aqui sobre as diferentes modalidades de ensino superior no país:
Como funciona a Pós-Graduação no Brasil?
Muitas pessoas quando terminam a graduação buscam se preparar ainda mais nas suas áreas, e é para isso que existe a Pós-graduação. Como o próprio nome sugere, ela é a etapa de ensino que ocorre quando o estudante já finalizou o seu curso superior. Ou seja, isso é critério básico para ingressar nos cursos de pós-graduação.
No nosso país, essa etapa é dividida entre cursos Lato Sensu e Stricto Sensu, que traduzidos do latim significam sentido amplo e sentido específico, respectivamente.
Nesse sentido, os cursos Lato Sensu englobam os MBA’s e Especializações, os quais tem duração em média de um ano. Nos quais, a formação é mais voltada ao mercado de trabalho e o produto final é a realização de um TCC.
Já nos cursos Stricto Sensu, estão o Mestrado e o Doutorado. Que são mais específicos e voltados para a produção científica e acadêmica, com a produção de dissertações e teses, respectivamente.
No esquema abaixo é possível perceber essa divisão:
Para que serve um Mestrado?
Como falado anteriormente, o mestrado não faz parte da educação obrigatória no país, então quem opta por cursá-lo tem objetivos específicos. Obviamente, a primeira conquista ao se tornar um mestrando é o conhecimento. Nos dois anos em que você se dedica à pesquisa e às aulas, você aprende cada vez mais sobre sua área de estudo. Além disso, as trocas de saberes com os professores e colegas de turmas nos possibilitam outros olhares sobre as temáticas estudadas.
Para além do conhecimento, o mestrado pode ser um diferencial para sua trajetória profissional, se você pensa em seguir uma carreira como professor universitário, o mestrado é uma titulação básica para isso.
Mesmo que sua intenção não seja atuar no ensino superior, mas se dedicar à pesquisa, o mestrado é o pontapé inicial para se inserir no mundo da pesquisa de forma mais significativa.
Em termos de mercado de trabalho, isso varia muito de acordo com a área, para algumas ter o mestrado pode ser um diferencial que eles não estão dispostos a pagar.
Como é o processo seletivo para o Mestrado?
Pensando nas etapas de ensino e de titulações, o mestrado vem após a pós-graduação de nível Lato Sensu, mas não é necessário que você tenha cursado uma especialização anteriormente. Desde que você tenha terminado uma graduação, já pode se inscrever para a seletiva de um programa de mestrado.
Existem algumas pessoas que pulam o mestrado e vão direto para o doutorado, embora essa atividade não seja muito comum, já que a maioria dos programas exigem o grau de Mestre para se tentar um processo seletivo para o doutorado.
O processo seletivo para o mestrado varia muito de um programa para outro, mas no geral, as etapas envolvem: entrega de documentos, análise de projeto de pesquisa, prova de proficiência em outros idiomas (inglês é o mais comum), prova teórica e entrevista, não necessariamente nessa ordem. Alguns programas costumam incluir outras etapas a essas.
Como se preparar para o processo seletivo de um Mestrado?
Não existe segredo, o importante é que você leia os editais e se prepare para eles. A primeira coisa é, obviamente, ter terminado a graduação, ou estar no último ano com previsão de se formar antes do início do mestrado.
Se você não é da área do mestrado que pretende cursar, não se desespere. A maioria dos programas aceita pessoas de outras áreas, um exemplo disso, tenho vários colegas que cursaram graduação em História e fizeram mestrado/doutorado em Ciências Sociais. Também existe o caso de pessoas que fazem a graduação numa licenciatura e depois realizam o mestrado em Educação, ou em áreas completamente diferentes.
Minha única sugestão nesses casos é se atentar aos concursos públicos, já que a maioria que cursa um mestrado pretende um cargo de professor universitário. O que costuma acontecer e muito, é que os concursos públicos geralmente procuram pessoas que tenham a graduação, mestrado e doutorado na mesma área, e aí quem tem uma formação interdisciplinar fica por fora desses critérios.
Projeto de pesquisa
Em qualquer programa de mestrado que você vá tentar ingressar é necessário inscrever um projeto de pesquisa. Esse projeto precisa seguir as diretrizes previstas em edital do programa, mas no geral, seguem o modelo básico que traz capa, introdução, delimitação do tema, justificativa, problema, objetivo, revisão bibliográfica, cronograma e referências bibliográficas.
Geralmente o recomendado é que o projeto esteja dentro de 10 a 20 páginas e demonstre que você já tem um tema específico, o material que será analisado e um conhecimento teórico sobre a área. É claro que falo com base na minha área que é a História, se você for de outra área, é importante que leia editais anteriores do programa e converse com pessoas da sua área para verificar se existem coisas muito diferentes.
Linha de pesquisa
Uma coisa que acaba eliminando muita gente já no início do processo de seleção, é que o projeto de pesquisa não se insere nas Linhas de pesquisa do Programa. Então, o primeiro passo quando você está pensando em um mestrado, é ver quais são as linhas de pesquisa do programa escolhido e se a sua ideia de pesquisa tem relação com ele. Evitando assim, uma desclassificação por incompatibilidade de temas e direcionamentos.
Currículo Lattes
Se você pretende cursar um Mestrado e não faz ideia do que é a Plataforma Lattes, é necessário que você pesquise um pouco mais. Quando vamos desenvolver uma pesquisa na graduação é comum ouvir dos professores a necessidade de publicá-la ou apresentar em algum congresso para “alimentar” o lattes.
A Plataforma Lattes é uma base de dados que reúne os currículos dos pesquisadores do país. Nesse local, você preenche um currículo que segue um padrão nacional e que é utilizado pelas instituições de ensino e pesquisa, bem como as agências de fomento à pesquisa do país, para perceber a trajetória acadêmica desses pesquisadores.
É no Currículo Lattes que você registra cada curso, palestra, pesquisa, prêmio, banca, entre outras atividades, que você participou ou realizou ao longo da sua carreira como pesquisador. Mesmo que essa carreira ainda esteja no início.
Daí a importância de você guardar cada certificado que já recebeu na vida, minha dica é baixe ou digitalize todos os certificados na medida em que for recebendo e já vá cadastrando na plataforma e salvando em uma pasta na nuvem. É importantíssimo ter um banco de dados com todos os seus certificados e diplomas pronto para cada vez que você precisar comprovar.
Lembrando que a participação em congressos e o número de publicações, bem como a qualidade das revistas onde foi publicado, influenciam nos critérios de seleção para bolsas de pesquisa.
Se ainda não tem um currículo lattes, aproveite e preencha o seu: http://lattes.cnpq.br/
Proficiência em língua estrangeira
Todos os programas de mestrado, independente da área de pesquisa, vão exigir que você tenha domínio de uma língua estrangeira. Não precisa ser fluente, mas precisa ter o conhecimento básico, principalmente de leitura em outro idioma.
Cada área ou programa estipula os idiomas que você pode mostrar sua proficiência. Isso geralmente depende da linguagem mais utilizada por pesquisadores naquela linha de pesquisa.
Na maioria das vezes o inglês é o mais utilizado. A prova varia muito, alguns programas utilizam a prova feita pela instituição, outros desenvolvem suas próprias áreas, e a maioria aceita os certificados de comprovação internacional como o TOEFL.
É importante que você pesquise como isso ocorre no programa específico que deseja cursar. No meu caso, a prova que realizei consistia na leitura de um artigo historiográfico em inglês e a resposta de uma questão dissertativa em português.
Lembre-se que se a leitura é específica da área, mesmo que você tenha um certo domínio no idioma estrangeiro, é importante revisar já que os conceitos tendem a ser muito precisos.
Se você passa nessa etapa, garante a comprovação de proficiência, que geralmente, é válida por dois anos.
Prova de seleção para o Mestrado
Como a maioria das coisas que já falei por aqui, a prova varia muito de acordo com o programa que você vai tentar se inserir. Na maioria das vezes, com antecedência de alguns meses, o edital indica uma bibliografia específica que o candidato deve ler. E é a partir dessa lista de livros e artigos que a prova é realizada.
Quando eu fiz a minha prova, ela consistiu na criação de um texto respondendo uma pergunta a partir da bibliografia indicada. No fim, eu li em torno de uns 10 livros e artigos anteriormente a prova, e escrevi sete páginas a mão sobre o tema.
Uma dica é o candidato falar com pessoas que já fizeram a prova nos anos anteriores, ou procurá-la online para se preparar previamente.
Entrevista do mestrado
Se você chegou até a fase de entrevista provavelmente você está quase dentro do programa. É nessa etapa que os professores que participam da linha de pesquisa que você está tentando entrar vão te conhecer e saber mais sobre sua intenção de pesquisa.
Ali eles tiram as dúvidas sobre como você pretende realizar a pesquisa, questionam a escolha da metodologia ou dos autores que te embasam, e geralmente, escolhem seu possível orientador.
Vá tranquilo, pesquise sobre os professores antes, no caso de não conhecê-los anteriormente, para que você consiga apontar uma opção de orientador, caso eles te perguntem.
Mestrado: Publico X Particular
Uma das maiores dúvidas do pessoal que vai tentar um mestrado é onde cursar. E alguns me perguntaram se faz muita diferença fazê-lo numa instituição pública ou particular.
Na verdade a maior preocupação que você tem que ter é em relação a duas coisas: você tem dinheiro para pagar um mestrado em instituição particular? Se não tem, já está aí a sua resposta.
E, a mais importante, é em relação a nota do programa. A CAPES, Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, que é vinculada ao MEC, é responsável pela avaliação e investimento na pós-graduação Stricto Sensu no Brasil.
Então, ela realiza avaliações aos programas de Mestrado e Doutorado e dá notas para eles. Se a nota do programa é muito baixa, ou se o programa não é avaliado pela CAPES, minha sugestão é: não participe dele!
No mais, eu sempre tive predileção pelas instituições públicas, em virtude dos ótimos profissionais que lá estão inseridos, das parcerias com empresas e instituições de fora do país, e dos programas de bolsas e incentivos a pesquisa que estão vinculados a elas. Obviamente, que no momento atual esses investimentos estão mais escassos.
Mestrado
Independente da sua área, é importante que além das dicas que coloquei aqui, você pesquise os editais dos anos anteriores do programa escolhido, converse com mestres que já cursaram na instituição, e reflita se você realmente está pronto para iniciar um mestrado.
Depois disso, é só se preparar e tentar o processo seletivo.
Nós do Nas tramas de Clio desejamos a todos boa sorte na vida acadêmica, e se você ainda tiver alguma dúvida deixe aqui embaixo a sua pergunta que responderemos com prazer.
Referências Bibliográficas:
CARVALHO, Bruno Leal Pastor de. Como é o mestrado em História? (Artigo). In: Café História – história feita com cliques. Disponível em: https://www.cafehistoria.com.br/como-e-o-mestrado-em-historia/. Publicado em: 06 jan. 2020. ISSN: 2674-5917.
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