Cores: como utilizá-las no estudo de História?
Já comentei em algumas publicações aqui no Nas Tramas de Clio que as cores costumam transmitir mensagens. Desse modo, o seu uso raramente é feito de maneira impensada, principalmente quando empregada em ações políticas ou publicitárias.
A análise da utilização da cor pode nos mostrar intenções, que num olhar rápido poderiam passar despercebidas, mas que procuram despertar reações nas pessoas que visualizam determinado material.
Cor: influência psicológica
Desde o século XVII é possível encontrar estudos significativos sobre a cor e suas influências no sentimento humano. Nomes como os do cientista Issac Newton e do poeta Goethe são recorrentes quando o assunto é a Teoria das Cores.
Esse estudo de como a cor afeta os sentidos humanos, inclusive produzindo emoções, é conhecido atualmente como Psicologia das Cores. Nela, é analisada como a cor quando captadas pelo sentido da visão transmite impulsos ao cérebro e, de que forma isso é transformado em sensações que despertam ações.
Cor e Publicidade:
Tendo em vista essa característica, muitas empresas utilizam conhecimentos de neuromarketing para elaborar suas logomarcas, propagandas e até o layout dos produtos. Visando, dessa forma, estimular o consumo percebendo como a cor impacta o consumidor.
O uso de cor ao longo da História
O entendimento da cor, as formas de acesso aos pigmentos e a própria nomenclatura dela são diferentes ao longo da História. Conforme salienta o historiador francês Michel Pastoureau, especialista no significado das cores na simbologia ocidental, elas também são fenômenos sociais tendo sua simbologia associada ao contexto histórico em que estão sendo usadas.
Dessa forma, a representação simbólica, ideológica e histórica em cores não são universais e só fazem sentido de acordo com a sociedade e o período de uso. Sendo assim, as sociedades constroem valores a partir dos significados que atribuem as cores.
Cor e privilégios:
Durante muito tempo o significado das cores nas sociedades esteve associado a dificuldade em se obter o seu pigmento. Dessa forma, quanto mais raro e luminoso fosse o corante, mais custo ele teria, ou seja, apenas poucas pessoas teria acesso ao seu uso.
Nesse sentido, tanto a iconografia quanto as roupas utilizadas pelas pessoas em determinados períodos apresentam uma simbologia associada a classes sociais privilegiadas.
Um exemplo disso, é a cor vermelha durante a Idade Média, quanto mais luminoso e vibrante fosse o tom, apenas nobres teriam acesso. Mesmo os burgueses ricos não tinham permissão para utilizá-las, já que ela era símbolo de distinção social.
Esse cenário só se alterou à partir da revolução Industrial, que possibilitou a fabricação de cores manipuladas artificialmente, o que barateou o acesso a esses pigmentos.
Uso político das cores
Nesse sentido, nem só os privilégios são retratados no uso das cores nas sociedades, mas também o poder político.
As cores de roupas além de demonstrar os privilégios sociais, determinavam também a posição política desses indivíduos. Os quais, passaram então a utilizar as mesmas cores para a criação de símbolos que demonstravam esse poder.
Dessa forma, as cores passaram a ser associadas à funções ou até mesmo à dinastias, o que demonstram a dimensão social e política das cores dos tecidos.
Vermelho: cor de nobres e demônios
Uma das cores que mais demonstram esses usos políticos e a representação de valores de uma sociedade é o vermelho.
Durante a Antiguidade e período Medieval ela fazia parte da tríade de cores mais utilizadas: branco, preto e vermelho. Ao longo da história obteve diversos significados em diferentes sociedades.
Exaltado e proibido, o vermelho ao lembrar o fogo e o sangue representou religiões e guerras na Antiguidade. Símbolo de vida e de poder, foi associado ao inferno e ao pecado na simbologia cristã.
Após a Revolução Francesa, em 1791, deixou de ser vista como cor relegada à nobreza, e passou a representar a luta popular, o sangue dos mártires derramado na revolução. Seu significado na nossa sociedade atual ainda é esse, remetendo as revoluções que levaram voz ao proletariado.
Cores da Nação:
É praticamente impossível não associar os países atuais às cores de suas bandeiras. Tais cores representam movimentos de revolução que os criaram, características do seu território e até mesmo as dinastias que tinham o poder na época da criação dos Estados Nacionais.
A substituição de cores que antes eram tradicionais naqueles territórios ou a sua manutenção, assim como o seu emprego nos símbolos nacionais que eram então criados tinham um objetivo específico: a criação do sentimento patriótico.
Assim como os símbolos, as noções de identidade nacional são socialmente construídas, conforme aponta Hobsbawm. E a formação dessas identidades que marcou o século XIX tinham uma intenção específica, ou seja, a partir da criação de um sentimento de pertencimento a uma nação realizar a manipulação das massas de acordo com o desejo de seu governo.
Cores no estudo da História: memorização
Além de entender os processos de elaboração de propagandas ou de símbolos, as cores podem auxiliar também no desenvolvimento de estímulos para a memorização.
Já comentamos aqui sobre a utilização de marca textos como estratégia para associar informações à categorias determinadas através de um color code.
Mas pensando especificamente sobre o estudo de história e estratégias de memorização, as cores também podem contribuir no desenvolvimento cognitivo quando associadas à temáticas específicas.
Como utilizar cor para estudar história?
Independente do material de estudo que você esteja produzindo, seja simplesmente uma anotação no seu caderno ou um Mapa Mental, a escolha das cores que vão ser utilizadas pode influenciar e muito no processo de memorização.
Para que ele ocorra, basta você selecionar as cores das canetas que serão utilizadas nos títulos de acordo com a temática a que elas se referem. Observe o exemplo disso nas imagens abaixo:
Vermelho + Azul
Utilizei as cores de canetinhas vermelho e azul para compor o fundo do título. Essas cores, por exemplo, podem ser utilizadas para tratar sobre a Revolução Francesa e a Independência das Treze Colônias Inglesas na América que se tornaram os EUA.
Isso porque, essas duas cores remetem às cores utilizadas nas bandeiras desses dois países.
Obviamente a mesma combinação poderia ter sido utilizada para outras temáticas que possam ser relacionadas à essas cores. A dica, nesse caso, é pensar em bandeiras ou símbolos que possam ser associados às cores.
Verde + Marrom
Quando o assunto é guerra, instantaneamente vem a nossa cabeça a estampa camuflada característica de fardas utilizadas por militares atualmente.
Nesse sentido, a combinação das cores verde e marrom fornecem essa associação ao tema de conflitos. Principalmente quando o tema são as Guerras Mundiais, já que são muitos países para utilizar algumas cor muito específica.
Já quando o tema for uma guerra com poucos inimigos se enfrentando, você pode utilizar as cores das bandeiras ou de símbolos que representem esses países em específico.
Amarelo + Laranja
É impossível pensar no movimento intelectual que surgiu na Europa no século XVIII sem remeter às cores que representam o seu nome: Iluminismo. Pregando a ideia das “luzes da razão” e questionando as estruturas políticas e sociais do Antigo Regime, a combinação das cores amarelo e laranja transmitem instantaneamente a ideia do movimento.
Verde + Amarelo
Quando eu passo uma atividade para meus alunos que envolvam episódios da política brasileira instantaneamente vejo vários deles pegando canetas verdes e amarelas. Obviamente as cores presentes na nossa bandeira nacional são perfeitas para elaborar materiais de estudo que se referem a nossa história.
Isso porque, a utilização dessas cores vai contribuir no processo de associação da temática e, consequentemente, auxiliar no desenvolvimento da memorização das informações.
A Cor e a História
Certamente as cores podem ser utilizadas tanto como material para uma análise histórica quanto para contribuir no processo de memorização de informações como estratégia para estudar para concursos e vestibulares.
Esperamos que nossas dicas te ajudem a perceber que elas nos contam muito mais do que imaginamos.
Usou alguma das nossas dicas? Conta pra gente nos comentários ;)
Referências Bibliográficas:
ALBUQUERQUE, Marcelo. A cor como fenômeno social e linguagem. História e Arquitetura, 2017.
HOBSBAWM, Eric. A invenção das tradições. – Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1984. Págs. 9-23.
LUCENDO, Guillermo Altares.Por que algumas culturas rechaçam o verde? Esse homem tem a resposta. El país, 2016.
MIYOSHI, Alex. Resenha de Le Petit Livre des couleurs. Revista de História da Arte e Arqueologia – número 12 – jul- dez 2009.
MARQUES, Joana Emídio. Bem-vindo ao fascinante mundo das cores. Observador, 2016.
RIDOLFI, Maurizio. As cores do «político». Da França Republicana de Maurice Agulhon à Itália «Risogimental» e liberal. Ler História [Online], 68 | 2015, posto online no dia 18 março 2016, consultado no dia 12 outubro 2019.
2 comentários
JOSUE G. SILVA · 24/07/2023 às 13:13
Excelente abordagem das cores no estudo da história, preciso de mais informações para me aprofundar mais no temas.
Caroline Dähne · 23/02/2024 às 15:06
Obrigada Josué!
Recomendamos a leitura dos textos que estão nas referências bibliográficas, eles me ajudaram a utilizar cada vez mais as cores de acordo com os temas 😉