THE HANDMAID’S TALE: DISTOPIA E REALIDADE
ESPECIAL HISTÓRIA DAS MULHERES: THE HANDMAID’S TALE
The Handmaid’s Tale no português O Conto da Aia, foi considerada a melhor série dramática de 2018 pela premiação do Globo de Ouro e é hoje, certamente, um sucesso mundial.
A série é baseada no livro homônimo de autoria da canadense Margaret Atwood lançado em 1985 que, da mesma maneira, se tornou novamente um sucesso de vendas.
Em síntese, a história gira em torno da personagem Offred, que é treinada como Aia e enviada para a casa do Comandante Fred Waterford, funcionário do alto escalão do governo da República de Gilead.
DISTOPIA: The Handmaid’s Tale
Portanto, o livro/série se trata de uma distopia, ou seja, um gênero literário de ficção que retrata a sociedade de um futuro sombrio. Nesse sentido, esse tipo de literatura, se constitui como forma de utopias negativas. As quais retratam sociedades autoritárias e geralmente patriarcais.
Desse modo, uma das principais características das Distopias é a construção de uma nova sociedade após o desastre da anterior, causada na maioria das vezes por atos terroristas ou destruições pós-guerra. Esse gênero literário se tornou popular principalmente no final do século XX. E é profundamente inspirado nos regimes totalitários que marcaram o início daquele século.
REALIDADE
Nesse sentido, a própria autora do livro revelou em várias entrevistas que se inspirou nos Regimes Totalitários para a criação do seu romance. Do mesmo modo, outro fato que colaborou para a criação da história foram as reivindicações do Movimento Feminista, que teve sua segunda onda entre as décadas de 60 e 90.
THE HANDMAID’S TALE EM SALA DE AULA
Certamente, tanto o livro quanto a série podem ser amplamente utilizados nas aulas de história como recursos pedagógicos. Principalmente no que se refere a uma perspectiva feminina dos acontecimentos e símbolos que evidentemente inspiraram a autora.
ROUPA
Inegavelmente, uma das características mais marcantes da história são as roupas utilizadas pelas personagens femininas que são divididas em castas.
Nesse sentido, como sempre lembro em minhas aulas, a simbologia das cores é importantíssima nas análises históricas. Já que, raramente elas são escolhidas aleatoriamente.
Desse modo, o vestuário tem papel fundamental pois ajuda a identificar o status social e, portanto, controlar as mulheres.
A cor azul é utilizada pelas Esposas dos Comandantes: essas mulheres são consideradas puras e, consequentemente, associadas ao símbolo da pureza religiosa da Virgem Maria.
Por outro lado, a cor bege ou verde escuro é relegada para as Martas, funcionárias das casas: nesse caso, as cores sem atrativos são utilizadas para as mulheres de baixo status social, que por ser inférteis são relegadas a funções domésticas de forma compulsória.
Seguidamente, a cor marrom é relegada as Tias, funcionárias de Gilead responsáveis pelo treinamento e controle das Aias: dessa maneira, as cores escuras são relacionadas a postura disciplinada e severa das mulheres que são encarregadas de manter a ordem, bem como, garantir o sucesso do processo de reprodução em uma sociedade infértil.
Vermelho: a cor do pecado
Por fim, resta a cor vermelha para as Aias: comumente relacionada na simbologia cristã com o pecado e o mau diabólico. Assim, enquanto as esposas utilizam a cor azul associada a pureza da Virgem Maria, para as Aias sobra o vermelho associado ao pecado de Maria Madalena.
Além disso, o vermelho também representa a fertilidade, função principal de uma Aia, que com a gestação de crianças saudáveis colabora, ainda que forçosamente, para o funcionamento da sociedade distópica.
COMO TRABALHAR EM SALA DE AULA?
De acordo com a autora do livro, para criar esse sistema de vestimenta, ela se inspirou principalmente no Nazismo alemão que utilizava as estrelas amarelas para identificar os judeus.
Nesse sentido, em sala de aula, o/a professor/a pode levar imagens das personagens femininas e realizar um exercício no qual os alunos devam identificar através das cores e das características das vestimentas as mensagens que elas transmitem.
NOMES DAS AIAS
Da mesma forma, outra característica importante, é a escolha dos nomes das personagens das Aias. É evidente que, novamente, assim como nas cores, a escolha não é aleatória, e sim demonstram a tentativa do apagamento da identidade da mulher.
É necessário lembrar aqui, que o papel desempenhado pelas Aias é o da reprodução. Numa sociedade que enfrenta dificuldades para a reprodução humana, com poucas gestações e ainda menos nascimentos saudáveis, as mulheres férteis perdem seu status de mulher e se transformam em propriedade do Estado.
Nesse sentido, não há utilidade em manter seus nomes originais, já que o desaparecimento intencional dos nomes e das histórias pessoais contribuem para anulação da mulher enquanto sujeito histórico.
As personagens das Aias são renomeadas ao saírem dos centros de treinamento, seus nomes mudam conforme são resignadas a outras casas de famílias.
Renomeadas
Essas características podem passar despercebidas para o leitor ou telespectador brasileiro, já que no português não é possível identificar a referência clara no idioma original.
As Aias são nomeadas conforme o comandante ao qual são designadas, no sentido de pertencimento, por exemplo, Ofglen, no inglês Of Glen, traduzindo “De Glen”. Consequentemente empregado nos nomes de todas as aias, Ofwarren, Ofjoseph, e assim por diante.
No caso da protagonista, Offred, cujo nome verdadeiro é June Osborne, a aia é designada para a casa do Comandante Fred Waterford. Portanto, Of Fred, ou no português “de Fred”. Outra característica nesse caso é que o nome da protagonista, remete a ideia de oferenda religiosa a um sacrifício.
COMO TRABALHAR EM SALA DE AULA?
Nesse caso, a ideia é passar em sala um trecho do episódio Afther, sétimo da segunda temporada da série. Através dele e da contextualização dos nomes pode-se trabalhar a importância do reconhecimento da identidade e do resgate dos nomes reais das personagens para o fortalecimento do sentimento de união.
No sentido de história, esse caso propicia a discussão:
- do conceito de identidade (sempre cobrado em questões do ENEM);
- da noção de sujeito histórico e a História positivista que deixava de lado as minorias em detrimento de uma história oficial;
- da estrutura de sociedade patriarcal na qual as mulheres tem a função principal da maternidade compulsória.
- A sociedade distópica criada por Margaret Atwood fornece inúmeras possibilidades de trabalho em sala de aula, principalmente no ensino de história dialogado com a história das mulheres.
Outras possibilidades: The Handmaid’s Tale
Aqui abordamos apenas duas sugestões de análises com os alunos. Mas, o/a professor/a que se sentiu instigado, pode ainda trabalhar a própria estrutura da sociedade e do governo de Gilead característico de sociedades autoritárias. Assim como, os elementos religiosos que norteiam os comportamentos tradicionais da sociedade distópica. Entre tantas outras possibilidades.
Usou alguma das nossas dicas em sala de aula? Conta pra gente nos comentários 😉
Referências Bibliográficas:
ATWOOD, Margareth. O conto de aia. São Paulo: Rocco, 2017.
Série The Handmaid’s Tale. Emissora: Hulu. 2017.
4 comentários
Luiz Claudio Carneiro de Souza · 20/02/2019 às 07:15
Bom dia,vi a propaganda da série da Netflix. Mas só através do seu artigo maravilhoso pude reconhecer a importância ! Parabéns!
Caroline Dähne · 23/02/2019 às 18:27
Obrigada Luiz!
Realmente vale muito a pena assistir essa série! 😉
Tatiana · 20/02/2019 às 13:14
Olá, achei interessante o conto de aia e sua posição frente do ensino nas turmas. Sou professora, e gostaria de trabalhar com meus alunos do ensino médio, porém ñ tenho o disponível. Caso tiver poderia me enviar ou me passar link onde posso obter lo inteiro.
Grata: Tatiana
Caroline Dähne · 23/02/2019 às 18:30
Olá Tatiana, que bom que gostou!
Infelizmente não tenho o arquivo do livro para disponibilizar, pois não se trata de um livro de domínio público.
Acredito que agora em março as livrarias provavelmente farão algumas promoções do livro e ele deva ficar mais acessível 😉