SUPER-HERÓIS NA AULA DE HISTÓRIA

Publicado por Caroline Dähne em

Com a expectativa do lançamento de Vingadores: Ultimato, quarto filme da franquia de sucesso do Universo Cinematográfico da Marvel, o destino dos principais super-heróis da saga é um mistério que não saí das discussões de quem acompanha fielmente a trama.

O enredo dividido nessas produções já levou milhares de pessoas aos cinemas do mundo todo e a estimativa é de que só na pré-estreia nos EUA o filme já tenha arrecadado cerca de 120 milhões de dólares.

Nesse sentido, diante de tanto sucesso, surge a dúvida: é possível utilizar super-heróis como recurso didático nas aulas de história?

Post do Instagram com o título do texto: Super-heróis na aula de história.

Super-heróis: Discussão Acadêmica

Nos últimos anos esse tema tem sido constantemente abordado em artigos acadêmicos, trabalhos de conclusão de curso, dissertações, teses, assim como, nas discussões de congressos especializados em educação.

Nesse sentido, todos eles, demonstram que em diversas áreas de ensino os super-heróis podem ser utilizados como recurso didático. Cabe ao professor, elaborar estratégias para que essa utilização não se configure apenas como uma ilustração da aula.

Dessa forma, o professor deve agir enquanto mediador, trazendo um material que seja atrativo aos alunos, mas trabalhando com ele de forma contextualizada, aproveitando todo o seu potencial.

Super-heróis em sala de aula:

Certamente devido a alta popularidade entre os jovens, o uso de super-heróis em sala de aula se torna por si só um atrativo para que os alunos se sintam interessados em realizar as atividades.

Mas, é necessário que esse potencial seja explorado, de forma que através da interpretação e contextualização da imagem desses ícones da cultura pop, os alunos sejam capazes de transformar seu saber prévio em conhecimento científico.

Super-heróis: Ficção X Realidade

Embora sejam obras de fantasia, os super-heróis refletem o período no qual foram criados e, consequentemente, tem inspiração em processos históricos. Por isso, o professor pode escolher qual será o fio condutor da análise em sala de aula.

Nesse sentido, abaixo listamos alguns desses eixos e citamos exemplos de como podem ser trabalhados na aula de história.

Momento histórico da produção:

De fato, as produções de histórias em quadrinhos acompanharam por muito tempo o momento de suas criações. Consequentemente, muitos dos personagens criados retratam situações vivenciadas na realidade pela sociedade que os produziu.

Um exemplo disso, é o período de guerras. Nesse sentido, durante conflitos, as propagandas patrióticas costumam utilizar as mais variadas linguagens como recursos para transmitir mensagens. Com os super-heróis não foi diferente.

Capitão América:

Certamente, o mais clássico exemplo disso é o Capitão América, personagem criado pelos estúdios Marvel em 1941, concomitantemente com a Segunda Guerra Mundial.

Assim, o personagem, que retrata o perfil norte-americano desejado como ideal, traz em seu próprio uniforme elementos que ressaltam o simbolismo do patriotismo do país.

Dessa forma, no período, o personagem foi utilizado até mesmo nas propagandas que visavam o alistamento de jovens nas forças armadas dos EUA.

Em sala de aula:

Nesse sentido, para demonstrar a relação da criação dos super-heróis com o seu contexto, pode-se utilizar em sala de aula a questão do ENEM de 2012 que traz a capa clássica da revista do Capitão América esmurrando Hitler em 1941:

Contexto Histórico:

Certamente, esse tópico pode ser relacionado com o anterior, na medida em que muitos personagens trazem em suas tramas características do momento em que foram criados. Nesse caso, é comum as suas histórias serem marcadas por aquele contexto histórico.

Nesse sentido, quando o professor opta por uma análise da história do personagem ao invés do momento da sua criação, é necessário que se trace uma linha do tempo desse super-herói e encontre junto com os alunos quais são os aspectos reais da história que aparecem misturados em meio a fantasia.

Viúva Negra:

Natasha Romanoff nem sempre foi uma agente da S.H.I.E.L.D, agência fictícia criada pela Marvel como uma espécie de organização que monitora os super-heróis. Antes, ela havia pertencido a KGB, agência de segurança do estado soviético, onde atuava como espiã da URSS. Após uma anistia, a personagem passou então a fazer parte dos Vingadores.

Em sala de aula:

Criada para ser antagonista do personagem Homem de Ferro, o embate entre eles demonstra claramente a polarização político-ideológica da Guerra Fria, contrapondo Comunismo X Capitalismo.

Desse modo, para trabalhar essa temática, o professor pode fazer uma análise através da cena do filme “Os Vingadores”, no qual a personagem passa por um interrogatório durante um trabalho para a S.H.I.E.L.D. no qual ela estava disfarçada.

Logo após, a linguagem utilizada, os aspectos da luta e a própria tortura podem ser elementos para relacionar com a história da personagem e com o contexto da Guerra Fria.

Elementos de análise:

Esse tópico varia conforme o meio escolhido para a análise dos super-heróis: HQ’s ou filmes. Uma vez que, cada formato pressupõe o uso de uma metodologia de análise diferente.

O importante aqui é lembrar de alguns pressupostos:

Nesse sentido, ambos utilizam imagem, parada ou em movimento, e sua produção pela indústria cultural atinge objetivos específicos.

Enquanto produto, essas imagens podem ser utilizadas para transmitir mensagens que podem até mesmo ser usadas para legitimar ou contestar um poder.

Para analisar a imagem dos super-heróis é necessário, portanto, um olhar atento para os elementos que compõe os personagens, tais como:

Conceitos Históricos:

Muitas vezes, embora trate de um conflito que existe somente na ficção, as histórias em quadrinhos ou as animações provenientes delas, trazem em suas tramas alguns conceitos históricos que podem ser trabalhados pelo professor.

Nesse sentido, as Hq’s publicadas durante a Guerra Fria trazem muitas características que podem ser utilizadas para análise pelos professores. Além dos personagens já citados acima, o Hulk por exemplo, traz no seu enredo a discussão referente a corrida armamentista e os experimentos científicos com projetos nucleares.

Além disso, durante esse período, é comum que a maioria dos inimigos dos personagens tragam pequenas referências à “guerra contra o comunismo”, desde a cor vermelha para retrata-los, até mesmo ao seu comportamento visto como “selvagem” e violento quando comparado aos heróis que retratam a suposta civilidade dos países capitalistas.

Cores do figurino:

Certamente é importante lembrar aos alunos que cores também transmite mensagens e estímulos visuais. Nesse caso, a paleta de cores escolhida para compor o visual do personagem pode fazer alusão à países, correntes de pensamento ou até mesmo sentimentos e, portanto, não são escolhidas de forma aleatória.

Poderes:

Nesse sentido, estabelecer quais são os poderes de cada herói, como ele os conquistou e qual a relação com o contexto histórico no qual se passam suas tramas pode ser fundamental para entender a ligação entre a ficção e a realidade.

Um exemplo nesse caso, é o Homem de Ferro, típico playboy milionário ligado ao setor da indústria com o desenvolvimento de uma tecnologia de ponta, cujo poder está associado à sua armadura. Nesse caso, o personagem foi criado em 1963 durante a Guerra Fria, num momento em que havia um intenso investimento nas pesquisas do setor de inovação tecnológica.

Super-heróis: outras possibilidades de análise

Existem inúmeras possibilidades de temas que podem ser analisados em sala de aula juntamente com os alunos. Além dos elementos destacados acima, o professor pode também salientar a importância de observar:

  • Símbolos;
  • Armamentos;
  • Inimigos;
  • Falas;

Super-heróis e a História:

Os super-heróis criados pela Marvel ou por outras editoras de histórias em quadrinhos, fornecem inúmeras possibilidades de trabalho em sala de aula, principalmente no ensino de história dialogado com épocas de conflito, como a Segunda Guerra Mundial e a Guerra Fria.

Aqui abordamos apenas algumas sugestões de análises com os alunos. Mas, o/a professor/a que se sentiu instigado, pode ainda trabalhar outras temáticas que se adequem ao seu conteúdo programático a partir desses elementos básicos de análise.

Usou alguma das nossas dicas
em sala de aula? Conta pra gente nos comentários ;)


Caroline Dähne

Mestre em História, Cultura e Identidades e graduada em Licenciatura em História pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Desenvolve pesquisas relacionadas a Segunda Guerra Mundial, Discursos jornalísticos, Patriotismo e Nacionalismo, Imprensa brasileira e Propagandas de guerra. Atualmente atua como professora de História na rede particular de ensino na cidade de Curitiba-PR.

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