Inspirações Históricas em The Handmaid’s Tale
Essa semana estreia a terceira temporada da série que virou sucesso mundial The Handmaid’s Tale, a qual teve inúmeras inspirações históricas em sua criação.
Assim como, a pouco tempo, foi divulgado que a autora da obra está desenvolvendo um novo livro que será a continuação da sua publicação que foi lançada em 1985.
Desse modo, a expectativa dos fãs está alta para saber tanto na série quando no livro qual foi o destino da protagonista June Osborne, mais conhecida pelo seu nome de aia, Offred.
Nesse sentido, já falamos sobre The Handmaid’s Tale aqui, num post em que trabalhamos as comparações entre a distopia e a realidade.
No qual, também apontamos algumas possibilidades para desenvolver em sala de aula.
Inspirações:
Certamente, para entender tanto o livro quanto a série, é necessário compreender a sociedade distópica criada pela autora.
Assim, quando falamos de Distopia nos referimos a um gênero literário de ficção que retrata uma sociedade que surgiu após a um desastre, seja ele ambiental ou bélico, e que tem como uma de suas principais características um governo autoritário.
Texto e Contexto:
Um dos principais aspectos para análise de uma obra literária do ponto de vista histórico é a relação entre ela e seu contexto de produção. Ou seja, aquilo que estava acontecendo na realidade durante o momento em que o/a autor/a estava produzindo sua escrita.
Nesse sentido, Margareth Atwood escreveu o livro, que na tradução recebeu o título de O Conto da Aia, no início da década de 1980.
E embora nem o Canadá, seu país de origem, nem os EUA, território no qual se passa sua história, estivessem sob um governo autoritário, o contexto mundial no período certamente contribuiu para sua criação.
Entrevistas
Aliás, em inúmeras entrevistas, a autora salienta que nenhuma estrutura política/social presente no livro foi invenção apenas de sua cabeça.
Tudo é baseado em situações que ocorreram antes na história ocidental e na tradição cristã.
Surgimento de Gilead
O surgimento da sociedade chamada de Gilead é apontado como resultado de inúmeros problemas que o território anterior estava passando.
Como desastres ecológicos e acidentes nucleares, por exemplo, que causaram uma taxa de natalidade extremamente baixa devido a esterilidade das mulheres.
Assim, dentre as inspirações históricas utilizadas para a criação da nova sociedade está o contexto da Guerra Fria, durante o qual a ameaça de um desastre nuclear era constante devido a intensa produção bélica na corrida armamentista entre EUA e URSS.
Governo Autoritário
Desse modo, devido à instabilidade criada pelos desastres ecológicos e nucleares, o governo democrático que antes existia no território foi substituído por uma nova estrutura, composto por grupos extremistas que propunham a “salvação” da sociedade que diziam estar com seus valores em ruínas.
Assim, essa substituição do governo democrático pelo autoritário dos Filhos de Jacó não aconteceu escancaradamente. Inicialmente criou-se uma ameaça terrorista que gerou medo na população e que possibilitou o fechamento do Congresso com a justificativa de salvar o país dos “fanáticos do Islã”.
Com esse sentimento de ameaça, os grupos extremistas implantaram a nova forma de governo através de um golpe, criando então a República de Gilead.
Essa estrutura de governo implantada e a forma como o poder é substituído, bem como a criação de ameaças estrangeiras e o medo como estratégia para evitar oposição, é característica de regimes autoritários.
Inspirações históricas
Por exemplo, o Nazismo e Fascismo que a autora utilizou como outra das suas inspirações históricas para a criação da sociedade de The Handmaid’s tale.
Elementos como a proibição de manifestações, repressões as pessoas contrárias ao regime, a implantação de um Estado de exceção permanente que aparecem na estrutura de Gilead, também foram inspirações retiradas de estruturas de governos ditatoriais da história ocidental.
Governo Teocrático
Em seguida, uma das principais características de Gilead é o caráter religioso que dá sustentação a estrutura da sua sociedade. A presença de inúmeros rituais, inclusive e principalmente o referente a concepção de bebês, demonstra que o resgate aos costumes religiosos tradicionais era visto como elemento de “salvação” para aquela sociedade degradada.
Desse modo, a questão religiosa que norteia o livro e a série são reflexos do que acontecia no contexto de produção da publicação no início da década de 1980. No qual, o conservadorismo cristão estava em voga nos EUA e a proliferação de programas televisivos religiosos era intensa.
Assim, muitos dos rituais e elementos religiosos presentes tiveram como inspirações passagens do Velho Testamento da Bíblia.
Sociedade Patriarcal
Da mesma forma, além da questão autoritária e religiosa que marcam a estrutura social de Gilead, um dos principais aspectos da história é como as mulheres são tratadas naquela sociedade distópica.
Nesse sentido, ela é dividida em castas, na qual as pessoas não possuem a possibilidade de mobilidade social e estão hierarquicamente separados.
Assim, a divisão distingue as funções dos homens e das mulheres, bem como de cada uma das castas, isso é definido de acordo com fatores biológicos (fertilidade); socioeconômicos, e também, pelos seus comportamentos no passado antes da transformação da sociedade.
Mulheres:
Igualmente, uma das primeiras ações dos Filhos de Jacó após a implantação de Gilead foi o controle da população através da restrição de direitos, como o fechamento das fronteiras impedindo as fugas, e o bloqueio do dinheiro das mulheres nos bancos (permitindo a administração dele apenas pelo parente homem mais próximo) seguido da demissão em massa de todas as mulheres do mercado de trabalho.
Essa medida extrema é apresentada como solução para o problema da infertilidade, já que as mulheres e sua busca pela autonomia financeira e sucesso profissional são vistos como fatores culpados pela “destruição da família”.
Por conseguinte, dentre as inspirações históricas para a criação dessa estrutura patriarcal de sociedade estão as inúmeras críticas ao feminismo feitas na década de 1980 através da tentativa do resgate dos valores tradicionais pelo saudosos conservadores nos EUA.
The Handmaid’s Tale: inspirações
Portanto, a preocupação da autora pelo embasamento histórico é nítida quando analisamos as estruturas trabalhadas por ela. A série, obviamente construiu elementos de forma a aproximar o enredo de uma estrutura mais contemporânea que atualizasse a discussão original.
A série, obviamente construiu elementos de forma a aproximar o enredo de uma estrutura mais contemporânea que atualizasse a discussão original.
Em síntese, se você não conhece a obra, seja o livro ou a série, compensa descobrir o que Gilead tem a nos contar sobre um governo autoritário, teocrático e patriarcal não tão distópico assim.
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Referências Bibliográficas:
ATWOOD, Margareth. O conto de aia. São Paulo: Rocco, 2017.
Série The Handmaid’s Tale. Emissora: Hulu. 2017.
PARUCKER, Isabela Gomes. “Vivíamos nas lacunas entre as histórias”: ficção, história e experiência feminina em The Handmaid’s Tale, de Margaret Atwood. 2018. 142 f. Dissertação (Mestrado em História)—Universidade de Brasília, Brasília, 2018.
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